Febre Familiar do Shar – pei (FSF)

Você sabe o que é febre familar do Shar- pei?

Você tem um lindo shar-pei, ele é forte saudável,carinhoso, adora passeios, está sempre ativo e disposto às brincadeiras. Mas de repente do nada um belo dia seu Sharfilho aparece apático, quietinho no canto, não quer brincar, não quer correr, você percebe que algo não vai bem com ele, mas não sabe identificar qual é o problema. Você já conhece os CUIDADOS BÁSICOS  que deve ter com ele, está bem alimentado com aquela ração super premium maravilhosa, a VACINAÇÃO e vermífugos estão em dia, seus exames estão ótimos e por isso você não entende o que pode está havendo de errado com ele, saiba que ele pode está com a Febre familiar do Shar-pei (FSF). 

Sim isso já aconteceu comigo, e confesso que a sensação de impotência é enorme. Todos os dias você acorda com um belo “bom dia” do seu filhote traduzido em lambidas e mais lambidas, sempre aquela alegria que nos faz levantar mais dispostos pra vida, para encarar o dia que às vezes é duro, mas que com esse incentivo matinal tudo se torna mais fácil. Um dia você acorda e seu sharfilho não te cumprimenta com a alegria de sempre, está tristinho e te olha com um olhar de quem pede ajuda, você percebe que algo não vai bem e tenta desvendar o mistério que ronda aquela situação.

Primeiro você o olha de cabo à rabo – literalmente, procurando indícios de algum ferimento ou machucado, aí você percebe que sua patinha traseira (seu jarrete), está inchado e quente. Depois percebe que ele evita apoiar a patinha no chão, e anda tentando suspender a perninha que está inchada. Logo em seguida você vai conferir a temperatura corporal dele e constata um estado febril…Pronto eu agora estou realmente desesperada, o que vou fazer? Meu sharfilho tem a febre familiar dos sharpei’s ! Diante dessa situação vamos tentar entender do que se trata a tal febre e aprender a identificar os sinais dela e porque ela ocorre.

O que é a FSF

Já é sabido por todos que a raça de cães shar-pei sofreu uma forte ameaça de extinção em meados dos anos 1949 , leia AQUI sobre sua origem, e que isso foi a causa de muitos cruzamentos consanguíneos na tentativa de salvar a raça da extinção. Os esforços feitos para salvar a raça entretanto não os poupou de uma herança genética bastante peculiar e problemática, esse foi o preço pago para que hoje a raça pudesse existir. A Febre Familiar do Shar-pei, é mais uma das doenças inflamatórias hereditárias que os cães podem desenvolver, bem como a Mucinose Cutânea (que já tratamos aqui em outro artigo).

Esta é uma doença hereditária inflamatória da raça que se transmite recessivamente em cada geração. NÃO é uma doença grave, mas é um sintoma para padecimentos tão perigosos como a mortal Amiloidose. A origem não é clara, mas especialistas estudam um teste para poder determinar o gene responsável desta doença. Como toda a febre resulta de um mecanismo de defesa do organismo. A febre deve-se a substâncias libertadas pelo nossos sistema imunológico através dos glóbulos brancos como resposta a um ataque ao organismo.

Existem pelo menos 11 destas substâncias que provocam a febre, as quais ao serem libertadas indicam ao sistema nervoso central que eleva a temperatura corporal. No Shar Pei com febre foram detectados problemas genéticos para regular uma destas substâncias, especificamente a IL-6. Estes níveis elevados de IL-6 são os responsáveis pelo quadro clinico da febre familiar do Shar Pei.

Esta doença pode afetar a machos e a fêmeas. E ainda que seja uma doença diferente da amiloidose, calcula-se que perto de um quarto dos cães que padecem da febre desenvolvem posteriormente amiloidose, geralmente do segundo ao quinto ano de vida.

---

Patogênese

A inflamação é uma resposta normal do corpo e é finamente controlada por um sistema de “freios” e “contrapesos” que regula a duração e intensidade da resposta. Existem sistemas em vigor que por sua vez a reposta positiva ON ,o sistema o transfomará em OFF, e manterá o equilíbrio. Entretanto um defeito genético do sistema imune inato pode conduzir a uma inflamação descontrolada, resultando em doença -AUTOINFLAMATÓRIA , onde o sistema permanecerá continuamente no modo ON. Essa inflamação não é saudável, pois resulta de uma alteração do sistema imunitário adaptativo e conduz a uma resposta imune sobre – reativo , resultando em doença auto-imune (do organismo reagindo contra si mesmo)

A FSF é mais complicada em Shar-Pei, devido a uma mutação genética que resulta na hialuraniose cutânea hereditária (HCH) – grosseiramente visto como as rugas excessivas que definem a raça. O resultado desse defeito genético é excesso de produção de ácido hialurônico (mucina). De baixo peso molecular, a quebra dessa glicoproteína , gera produtos de metabolismo do ácido hialurônico, que são pró-inflamatória e exacerbam o processo pró-inflamatório envolvido na FSF.

Ácido hialurônico é uma substância normal no corpo tornando-se a matriz intercelular entre as células. Com base em seu conteúdo celular e água pode apresentar-se como um material gelatinoso de fluxo livre para algo tão firme como cartilagem. Recentemente, uma mutação do gene a montante HAS2 em cromossomo13 foi descoberto.

A mutação é conhecida como a mutação “meatmouth” e é uma variação do número de contagem (CNV) que consiste de múltiplas cópias de um gene regulador controlar a síntese de ácido hialurônico. Os níveis aumentados de ácido hialurônico estão associados há uma tendência a desenvolver FSF e Amiloidose.

Sinais clínicos – Leia os sinais e fique alerta

Ainda não existe uma maneira conhecida de se diagnosticar a FSF, o que se pode e deve ser feito, é ficar atento aos sinais clínicos típicos da doença.

1. Febre episódica é o sinal mais importante e consistente dessa desordem, observa-se estados febris com temperaturas de 39°C a 41°C que podem durar de 12-36 horas.
2. Outro sinal clínico importante que geralmente acompanha a febre é o inchaço de uma articulação, geralmente o jarrete. Esse inchaço é bastante doloroso e quente , também pode envolver o carpo (pulso) ou os lábios e/ou focinho, esses últimos são menos frequentes.
3. Cães com a FSF estão doentes, sendo assim eles relutam em se mover devido às dores na articulação, seu caminhar fica lento , parecem “pisar em ovos”.
4. Poder haver também sinais gastrointestinais como vômito e diarréia leve.
5. Poderá ainda apresentar apatia geral , não há vontade de beber ou de comer.

Articulação do jarrete inchado

Postura característica- Dor ao pisar

Articulação carpo (pulso) inchada

 Sim ele está com a febre, como tratar?

Como tantas outras doenças auto-imunes a febre familiar do Shar-pei não tem cura.

O tratamento será mediante antipiréticos que o veterinário administre. Alguns especialistas aconselham que entre crises febris administre-se de forma preventiva pequenas doses de aspirina. Todos os tratamentos devem realizar-se através da vigilância veterinária. 

NUNCA em hipotése nenhuma, medique seu cão sem a indicação e o aconselhamento do seu veterinário.

É muito importante controlar a temperatura nesta condição. Inicialmente,a febre pode ser tratados utilizando aspirina. Normalmente, uma dose de adulto normal de aspirina (325 mg) é dada a cada 6 a 12 horas durante as primeiras 24 horas e, em seguida, duas vezes por dia durante 3-5 dias daí em diante. É importante continuar o tratamento durante vários dias após o episódio para prevenir a febre e garantir boa recuperação.

Em raros casos em que a aspirina não funciona ou para febres extremamente altas, dipirona é dado. Outros NSAIDs também podem ser utilizados, mas a resposta pode ser um pouco imprevisível. Alguns pacientes necessitam de cuidados de suporte com fluidoterapia endovenosa e, em casos extremos tratamento de emergência semelhante ao tratamento insolação. Os antibióticos não são normalmente indicada nesta condição.

Acredita-se que existem alguns gatilhos da febre como o stress, por exemplo. O stress pode chegar através de uma luta com outro cão, treino e exercício físico intensos, calor excessivo…

Se você é capaz de reconhecer esses gatilhos e tomar medidas para evitá-los o número de episódios FSF muitas vezes pode ser reduzida, mas o mais importante  é fazer  um acompanhamento do teu animal de estimação para prevenir o surgimento de uma amiloidose.

Mantenha – se em estado de alerta, monitore-o

 O monitoramento para as complicações que muitas vezes acompanham FSF é uma das principais metas para o proprietário de um cão FSF. A sequela principal e mais consistente para FSF é insuficiência renal, quer devido à doença renal imunomediada ou amiloidose renal. Atualmente,recomenda-se o monitoramento de um exame de urina a cada 3 meses.

A amostra deve ser coletada a primeira hora da manhã. Olho principalmente na gravidade específica da urina, que é uma medida da concentração da urina e os níveis de proteína na urina. Quando os rins começam a falhar a indicação inicial é uma perda da capacidade de produzir um concentrado de urina. Isso ocorre antes que haja alterações sanguíneas relacionadas com insuficiência renal.

Aumento do consumo de água, aumento da frequência urinária são os sinais clínicos associados com uma perda de capacidade de concentração, mas esses sinais muitas vezes não são reconhecidos. Também é prudente fazer um painel de sangue a cada 6-12 meses e, certamente, fazer um se o exame de urina for anormal. Saber o peso do seu cão também é muito importante, pese-o periodicamente. Nós muitas vezes não reconhecemos uma perda de peso significativa, porque é muito sutil ao longo de um período mais longo de tempo.

O consumo de água e apetite são outros indicadores importantes para assistir. A amiloidose é geralmente medular em Shar-Pei, mas pode se manifestar como uma nefropatia perdedora de proteínas e rácios UPC e tratamento com -inibidores- ECA pode ser necessária

É recomendável que se o teu Shar Pei já tenha tido episódios destas febres que acabes com a ideia de utilizá-lo como reprodutor e consideres esterilizá-lo.

Não se desespere, isso não é uma sentença de morte

Apesar de bastante preocupante a febre familiar do shar-pei não é uma doença que os condena à morte. Há relatos de criadores que tiveram cães que  apresentaram a FSF e viveram  até seus 14 anos. A FSF NÃO é uma sentença de morte, a febre não significa automaticamente Amiloidose. Há cães que morreram por amiloidose sem nunca apresentarem episódios de febre familiar do shar-pei.

O importante é ficar alerta e reconhecer os sinais clínicos da doença , já que não há ainda exames capazes de diagnosticá-la. Reconhecer os gatilhos e evitá-los também vai trazer uma boa qualidade de vida ao seu Sharfilho, já que isso diminuirá os episódios da febre. Uma vez com a febre realize o monitoramento, e você será capaz juntamente com seu veterinário de identificar qualquer alteração mais comprometedora.

---

O futuro

Uma investigação está em andamento na Universidade de Missouri College of Veterinary Medicine pelo Dr. Gary Johnson para desenvolver um teste de DNA. O gene para a FMF humano foi sequenciado no outono de 1997, e com essa informação Dr. Johnson tinha a esperança de sequenciar o gene FSF. Essa informação foi aplicado pelo Dr. Gary Johnson para FSF em um projeto de pesquisa fundada pelo Charitable Trust CSPCA.

Esse projeto foi determinar que as mutações que causam FMF no homem não existem no FSF no Shar-Pei; portanto, eles são distintos, embora as doenças similares. Existem outras doenças inflamatórias febre hereditárias no homem e Dr. Kastner nos Institutos Nacionais de Saúde estão olhando para a desordem com informações fornecidas pelo Dr. Tintle. Familial Hibernian Febre em homem também foi descartada como causa da FSF por Dr. Johnson com informações fornecidas pelo NIH.

Prosseguirão os trabalhos para encontrar a mutação (s) genética responsável pela FSF em Shar-Pei. Como desta escrita a mutação responsável pela FSF não foi encontrado. Se um teste pode ser desenvolvido, um programa de rastreio pode ser estabelecida para a tela reprodutores e determinar indivíduos normais, os transportadores e os cães afetados. Com esta informação criadores de Shar-Pei podem gradualmente eliminar esta doença genética da raça.

Um dos principais obstáculos para a investigação gira em torno do fenótipo imprevisível da FSF.Não há nenhuma faixa etária consistente quando os sinais clínicos se desenvolvem, os sinais clínicos podem ser variável, alguns cães desenvolvem amiloidose, outras não, etc. Isto torna muito difícil a utilização de métodos de seleção genética que são baseados em fenótipo.

---

Aprenda aqui a verificar se o seu cão está com febre

Nem sempre é fácil saber se o nosso cãozinho está com febre, tampouco sabemos a maneira correta de aferir sua temperatura.O médico veterinário Sílvio Saraiva dá algumas dicas pra nos auxiliar a fazer a correta aferição da temperatura.

Programa Referencial – Dog Mania

---

NOTA:  Este artigo tem caráter APENAS informativo, não sendo sua finalidade realizar diagnóstico / e ou incentivar o auto diagnóstico por parte dos proprietários. Procure  SEMPREum profissional veterinário para o diagnóstico e tratamento adequados.

---

 Fontes: http://www.caesmania.com  /  http://www.royalsharpei.com  / http://www.cspca.com

---

Responda à nossa Enquete.